Titulo: Praticar o Pecado: Uma Análise Bíblica
Texto base:
Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio. Para isso o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo. Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus. 1Jo3. 8 e9
Introdução
A questão da prática do pecado, conforme abordada em 1 João 3: 8 e 9, é central para a compreensão da relação entre a natureza humana e a fidelidade a Deus. Este texto afirma que "quem comete o pecado é do diabo", "quem é nascido de Deus não comete pecado", indicando que a prática do pecado deve ser compreendida como uma condição espiritual fundamental.
Pontos.
1. Definição de Praticar o Pecado e o Sentido Original da Palavra
A palavra "praticar" utilizada nas traduções bíblicas vem do termo grego poieo, que significa fazer ou executar uma ação. No contexto bíblico, a tradução deve ser entendida em seu sentido fundamental, ou seja, o de concretizar uma ação, sem qualquer implicação de frequência ou regularidade. Quando a Bíblia foi traduzida, a palavra "praticar" foi usada para refletir essa ideia de realizar um ato e não de fazer algo com repetição ou regularidade. Portanto, a interpretação correta, de acordo com o texto original, é a de que quem pratica o pecado está realizando um ato de desobediência a Deus, sem que a frequência ou repetição desse ato seja relevante.
2. O Pecado como Estado da Alma
O pecado é mais do que um ato; é um estado da alma. Quando alguém vive em infidelidade a Deus, tudo o que faz está contaminado pelo pecado. Isso é evidenciado em Tito 1:15, que diz: "Tudo é puro para os que são puros, mas para os corrompidos e incrédulos nada é puro." Portanto, a prática do pecado revela a condição espiritual de uma pessoa e sua separação de Deus.
O princípio de que uma boa fonte não pode produzir algo mau, e uma má fonte não pode produzir algo bom, é abordado em vários textos bíblicos. Veja alguns exemplos:
Mateus 7:16-20:
> "Pelos seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis."
Jesus ensina que a natureza de uma árvore (ou fonte) determina o tipo de fruto que ela produzirá. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, e vice-versa. Este princípio ilustra a coerência entre a natureza de algo e suas ações ou produções.
Lucas 6:43-45:
> "Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro tira o mal; porque da abundância do seu coração fala a boca."
Aqui, Lucas reafirma a mesma ideia, destacando que o fruto é uma evidência do caráter ou da natureza da árvore. Assim como uma fonte má não pode produzir algo bom, o que está no coração de uma pessoa também se manifesta em suas palavras e ações.
3. Tiago 3:11-12:
> "Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim, tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce."
Tiago usa a imagem de uma fonte para ilustrar que uma mesma fonte não pode produzir água boa e má ao mesmo tempo. Ele reforça que a natureza de algo determina o que ela produz.
Esses textos destacam o princípio de que a origem ou a natureza de algo influencia diretamente o resultado ou o fruto produzido.
Vejamos a situação de Pedro que era discípulo de Jesus, andava com Jesus, que disse a Pedro antes dele traí-lo, que quando se convertesse apascentasse suas ovelhas.(Lucas22.31,32). A biblia demonstra que o motivo para o "cristão" pecar (trair Jesus) é ainda não ter verdadeiramente nascido de novo ou se já nascido, desviar-se do caminho, no caso de Pedro, este ainda, não era nascido de novo (convertido). Após a morte e ressurreição de Cristo, Pedro apos arrepender-se, morreria por Cristo (Jo.21 18,19).
3. Romanos 6: Morto para o Pecado
Em Romanos 6:1-2, Paulo escreve: "Que diremos, pois? Continuaremos no pecado, para que a graça aumente? De modo nenhum! Nós, que morremos para o pecado, como podemos ainda pecar?" Este texto reforça e comprova a interpretação de 1 João 3:8,9, pois a expressão "morrer para o pecado" deixa claro que a prática do pecado não pode ser entendida em termos de frequência. Uma vez que estamos mortos para o pecado, não há espaço para pecar, mesmo que "de vez em quando". A analogia da morte é enfática: assim como um morto não pode se levantar e agir, aquele que morreu para o pecado não pode mais pecar. Portanto, aquele que permanece pecando, ainda que de forma esporádica, demonstra que não está verdadeiramente morto para o pecado e, consequentemente, não está em aliança com Deus.
4. João 8: A Verdade que Liberta do Pecado
Em João 8:32, Jesus diz: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Aqui, a ideia de libertação é completa. Não há espaço para uma libertação parcial ou incompleta; a verdade liberta totalmente do pecado. Em João 8:34, Jesus afirma: "Todo aquele que comete pecado é escravo do pecado." Este versículo reforça que quem comete pecado está sob o domínio do pecado, sendo seu escravo. O propósito da vinda de Jesus, como exposto em 1 João 3:8, é "desfazer as obras do diabo". A palavra desfazer no original grego é luo, que significa aniquilar ou destruir completamente, não deixando nada restante. Ou seja, Jesus veio para destruir a escravidão do pecado, não para mantê-la viva ou permitir que persista, ainda que de forma esporádica.
Essa interpretação demonstra que qualquer visão que permita a continuidade do pecado, ainda que ocasionalmente, contradiz a obra completa de Cristo. O texto de João 8, portanto, destrói toda a argumentação sobre a frequência do pecado, mostrando que a verdadeira libertação em Cristo é absoluta e não permite a convivência com o pecado, seja frequente ou esporádico.
5. A Ordem de Jesus é Não Pecar Mais
As palavras de Jesus em duas ocasiões distintas revelam a seriedade de Seu chamado para uma vida sem pecado após um encontro verdadeiro com Ele:
5.1. A mulher adúltera (João 8:11):
Após a multidão se dispersar sem condená-la, Jesus declara: "Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais." Essa ordem enfatiza que, embora o perdão seja concedido, a expectativa de Deus é uma transformação de vida, abandonando totalmente o pecado.
5.2. O paralítico curado (João 5:14):
Encontrando o homem que havia sido curado, Jesus o adverte: "Olha, já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior." Aqui, além do chamado para abandonar o pecado, Jesus associa o pecado à consequência ainda mais grave que o sofrimento de anos daquele homem, referindo-se ao sofrimento eterno.
Essas passagens mostram que Jesus não apenas perdoa, mas também exige uma mudança completa de vida. Sua ordem é clara e direta: "Não peques mais." É irracional entender que Jesus mandaria algo impossível. Sua ordem é procedente e deve ser obedecida, a desobediência significa a negação da Soberania de Deus, negação de Deus, pois negar sua soberania é negar sua natureza dicina. Jesus concede graça e poder para que os que O seguem vivam em santidade. Isso demonstra que aqueles que têm um verdadeiro encontro com Ele são chamados e capacitados a viver em fidelidade a Deus.
6. A Falácia da Regularidade do Pecado
A ideia de que o texto de 1 João 3:8,9 pode ser interpretado como se referindo à regularidade do pecado é enganosa. Essa interpretação sugere que a salvação poderia ser relativizada, dependendo da frequência com que alguém peca. Perguntas como "o que é cometer pecado de vez em quando?" ou "o que é pecar com frequência?" são subjetivas e variam de pessoa para pessoa. Isso significaria que a salvação estaria condicionada à interpretação individual da frequência do pecado, levando a uma relativização da graça de Deus. A lógica por trás dessa visão é falha, pois implica que alguém poderia ser salvo simplesmente porque peca menos frequentemente do que outro, contradizendo a natureza absoluta da necessidade de redenção em Cristo, através da obediência em reconhecimento ao sangue de Jesus derramado pelo pecado, ou seja, a libertação do pecado.
7. A Natureza Transformada pelo Novo Nascimento
Alguns argumentam que, devido à natureza humana, é impossível viver sem pecar. No entanto, essa visão contradiz a Escritura, que ensina que a salvação em Cristo transforma radicalmente a natureza humana. Em João 3:3-7, Jesus afirma a necessidade de nascer de novo, o que implica morrer para a velha natureza. Essa morte, representada simbolicamente pelo batismo (Romanos 6:4), significa o fim da antiga natureza pecaminosa, que estava sujeita ao pecado. O batismo, portanto, é um testemunho de que a pessoa foi sepultada com Cristo e ressuscitou para uma nova vida, onde a velha natureza, incapaz de viver sem pecar, foi deixada para trás.
Em 2 Coríntios 5:17, Paulo declara: "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." Portanto, aquele que foi regenerado e se submeteu à obra de Cristo tem uma nova natureza, capaz de viver em santidade. O argumento de que "não se consegue viver sem pecar" se baseia na velha natureza, que já foi crucificada com Cristo (Gálatas 2:20). Isso comprova que não há justificativa para o pecado na vida do crente regenerado.
Além disso, em 1 João 2:1, lemos: "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis." João deixa claro que o objetivo das instruções bíblicas é capacitar o crente a não pecar, reforçando que a prática do pecado vai contra as instruções de Deus. O verbo "pequeis" encontra-se no original no aoristo subjuntivo ativo, que indica uma ação pontual e não continua, ou seja, nao pequeis absolutamente. Ignorar esse ensino é desconsiderar a palavra de Deus e desobedecer à sua vontade.
Conclusão
A prática do pecado, conforme definida na Bíblia e baseada no sentido original do termo grego "poieo", refere-se a um estado de rebelião contra Deus e à concretização de uma ação pecaminosa. Não se trata de um número de ações, mas da disposição do coração. É fundamental entender que quem pratica o pecado não está apenas cometendo atos isolados, mas se identificando com uma natureza que se opõe à vontade de Deus. Portanto, a verdadeira fé é caracterizada pela fidelidade e pela rejeição do pecado como estado contínuo de desobediência. Aqueles que estão em Cristo, conforme Romanos 6, estão mortos para o pecado, o que significa que não podem mais pecar, de forma alguma.